Notícias prancha amsler 16-abr-2010: PEDRO PAULO GUISE CARNEIRO LOPES, O PEPE
@migos,
E aí vai mais uma colaboração para o livro do John, agora sobre o Pedro Paulo Guise Carneiro Lopes, o Pepê, surfista expoente carioca, falecido precocemente em abril de 1991, durante o mundial de asa delta no Japão.
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Pepe no Campeonato do Pier - 1973 - foto: Nando Moura
Em um amanhecer de 1972, eu me preparava para entrar em mais um fantástico dia de ondas no Pier de Ipanema, quanto um tiquinho de surfista e bastante cabeludo me perguntou como se fazia para passar pela arrebentação e pegar aquelas buraqueiras. Na mesma hora perguntei se ele tinha certeza que queria entrar ali - sua resposta veio acompanhada de um brilho intenso nos olhos, que não me deixou dúvida alguma de que ele iria se meter lá dentro. Pedi então que me acompanhasse, pois iríamos entrar juntos. Aguardamos então a série e entramos sem tomar onda alguma na cabeça. Horas depois, ao sair, já na areia perguntei que era aquele “birrumbinha” tão audaz. Foi neste dia, em que o Pepê pela primeira vez surfava o Píer, que eu o conheci.
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Mangabeira, Tumbero, Yso Amsler, Careca, Pessanha, Daniel, Granfino, Julio, Jaques Neri e Pepe em Pta. Hermosa - 1974 - foto: Alvinho
No verão de 1974, encontrei-o em Punta Hermosa no Peru. Ali o Pepê já se destacava nas ondas mais “casca grossa”, em Punta Rocas ou ainda na Isla Silencio ou até em Siñoritas.
Alguns anos se passaram, e em Janeiro de 1975, eu já na minha segunda temporada no Hawai’i, acabando de chegar, e Pipeline quebrava perfeito de 10 a 12 pés. Eu havia tomado emprestada uma gun 8’ 6” do Daniel Friedman e encarava, ainda com água pelas canelas, aquelas buraqueiras alucinantes, quando alguém me deu um tapinha nas costas, ao mesmo tempo perguntando: “e aí vamos entrar?”. Era o Pepê, já mostrando o canal de entrada para as ondas.
Além de talentoso surfista, Pepê sempre teve espírito empreendedor, e ainda bem novo enveredou pelo caminho da culinária – pois vendia brigadeiro e bolo de chocolate na escola. Ele também fazia um bolinho de arroz integral recheado de queijo que era espetacular – quem provou sabe e pode confirmar. Daí para o primeiro quiosque no Pepino, depois na Barra, depois restaurante japonês, foi sempre certeza de sucesso. Era chegar lá na barraca da Barra, ele já dizia logo, “ô Yso, o bolinho tá crock! crock! – ele próprio um amante do seu próprio bolinho.
Certo dia, na Praia do Pepino, lembro de estar caminhando pela areia já de saída da praia, quando ouvi uns berros lá dos céus, “Yso! Yso! péra aí, não vai embora ainda não que eu preciso falar com você”. Pasmem, era o Pepê, que se preparava para aterrissar – ao estolar sua asa delta, perdeu o controle e foi de encontro ao paredão da rampa de acesso à areia. O Sabá, que também estava lá, e eu imediatamente corremos para socorrê-lo. Eu gritava para ninguém movê-lo. Aguardamos a chegada da ambulância, para saber depois que nada de grave tinha ocorrido com ele, apenas um susto.
Em uma das minhas caminhadas ao Arpoador, tenho dele uma das últimas imagens: encontrei-o saindo da praia, acompanhado da mulher e de seus dois filhos, ainda bem pequenos. Ele me apresentou a sua mulher, dizendo que eu “era ele amanhã”; não sem perguntar então porque eu ainda não estava fazendo vôo livre. Minha resposta foi simples e direta, e sei que ele me entendeu: Deus não havia me dado nem penas nem asas – e eu, mesmo com esse meu temperamento destemido, sempre tive muito medo das consequências do vôo livre.
Pepe no Pier de Ipanema -1974 - Foto: Fedoca
O Pepê, em tudo o que tentou e realizou, foi sempre um campeão. Quem acompanhou sua trajetória, sabe: nasceu pra vencer, e foi vencendo que nos deixou.
Quantas saudades, amigo Pepê!
Yso Amsler