terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Notícias prancha amsler : 10-fev-2008 SUFOCOS - primeira parte

@migos,

A ideia deste post veio da série de perguntas sobre surf que me tem feito o John Wolthers, companheiro de pódio nos atuais campeonatos de pranchão. Ele vem desenvolvendo um projeto de livro, e aqui mesmo já vão algumas respostas sobre um assunto sempre de interesse de todo surfista: "os sufocos"!

Como o assunto é bastante extenso aqui vai a primeira parte... nos anos 70.

Para um surfista iniciante, um entusiasta ou profissional, apenas uma coisa é certa: se ainda não passou, vai passar por um. Existe uma variedade de formas: o caldo, a correnteza e a baixa da maré em fundo agressivo (coral ou derrame basáltico) – entre outras – e também estas, combinadas!


LAJE JACONÉ - ESTADO DO RIO -1975

Foi em 1975, numa onda super "casca grossa" na Laje de Jaconé. Uma buraqueira que tinha sólidos 10 pés, e veio no outside, eu não consegui passar. Lembro ainda que quando abri minhas pernas e empurrei minha gun pra trás, voltando com a crista da onda; fiquei bastante tempo com o peito grudado na bancada de marisco sem conseguir me levantar.

Meu irmão Sergio, o Sabá, o Kadinho e o Rico, que estavam na água, presenciaram quando essa onda me tragou, e dizem que só relaxaram depois que eu apareci com meio corpo fora d´água, respirando, segundos antes do resto da série despencar novamente na minha cabeça.
Foram altas e inesquecíveis esquerdas, o Kadinho partiu a gunzeira 8' 6" Bill Stonebreaker em três pedaços. Eu com uma prancha amsler 7'4" (gun) e o Sergio com uma amsler 6' 8" com quilha dolphin.


Em tempo: não é que no último dia 13 de abril o Globo publicou a conquista da Laje de Jaconé pelos big riders Eraldo e Burle? Pois o meu caldo de 1975 já comentado por mim, onde fui literalmente tragado, foi exatamente lá naquele caroço que aparece na foto de hoje "Em busca das gigantes do mar". Só pra relembrar, em 1975 nós não éramos menos destemidos que a dupla citada: dropávamos aquelas ondas mas era no braço!

WAIMEA BAY - HAWAII - 1976

Final de 1976, eu dividia um quarto com o Betão em Sunset Point. O Lipe bateu cedinho na janela avisando: Waimea está quebrando 20 plus. Peguei minha Gun 8' 3", a da foto acima, e entramos no carro rumo a Waimea Bay.

Embora fosse minha terceira temporada no Hawaii, era a primeira vez que surfaria The Bay! O céu azul claro e o vento "trade" seguravam a crista daqueles paredões de azul turquesa. Caprichamos na parafina e nos jogamos na água, passando facilmente o shorebrake. Betão e Lipe já eram veteranos em Waimea; eu, no entanto, remei vagarosamente pro outside, estudando o posicionamento no pico.

Já no "line up", eu não parava de remar, pois a corrente, que é bem forte, nos arrastava pro lado. Quando o horizonte escureceu, mostrando que a série chegava na bancada, aconteceu algo que eu ainda não tinha presenciado em nenhum outro pico: o oceano afundar! É mais ou menos como estar no fundo de uma bacia, remando para o lado para sair da zona de impacto.

Deixei passar a primeira, a segunda também, meti pra dentro na terceira - 20 pés de onda... passou! Fiquei exatamente na zona de impacto, com o restante da série quebrando na cabeça. Duas coisas acontecem quando aquelas ondas quebram na nossa cabeça: você afunda sem querer afundar, por causa do fundo de coral afiado, não há como descrever, só vivendo; e você fica dentro de um liquidificador muito escuro, não sabe se está indo pra cima ou pra baixo. Fui tomando caldo, da zona de impacto até o inside.

Minha sorte foi o excelente preparo físico, na época, e minha tranquilidade para administrar a força das ondas a meu favor para poder, apesar dos caldos, chegar até a areia. De lá, vi minha prancha sendo levada pela correnteza pro lado esquerdo da baía, pensando, "não vou lá de jeito nenhum". De repente um "POW" (existiam muitos na ilha naquela época, prisioneiros do Vietnam retornados para casa) mergulhou, resgatou minha prancha e a trouxe pra minhas mãos, dizendo ainda que entendia eu não ter entrado novamente, pois havia visto a quantidade de ondas que eu tinha tomado na cabeça. E foi a única ocasião que entrei pra surfar em Waimea.


LAIE - HAWAII - 1977

Assim que Helmo chegou ao Hawaii, em 1977, o Otávio "Targão", que tinha carro, nos levou para surfar em Laie, Nordeste de Oahu. As ondas não passavam de 5 pés, e embora o pico de direitas e esquerdas fosse longe, entrar era bem fácial, a corrente era extremamente forte...isso, extremamente forte!

Pegávamos altas ondas, até que eu dropei super atrasado e virei a maior vaca. Já usávamos cordinha naquela época, e ela arrebentou. Perdi minha prancha, nadava, nadava e nadava, e não conseguia chegar na praia - eu nunca tinha nadado tanto na vida. A praia continuava longe e a corrente me levava cada vez mais pra longe do Helmo e do Targão.

De repente, vi minha prancha vindo na minha direção, nadei até ela, o bico parecia uma couve-flor, tinha batido na bancada de coral, quando eu caí. Subi e remei de volta pro pico. Lembro de ter dito pros dois; pô! vocês nem viram o sufoco que eu estava passando?

Pegamos muito mais ondas e novamente virei mais uma vaca, perdendo minha prancha uma vez mais. Quando levantei já no desespero de nadar tudo aquilo novamente, me tranquilizei ao ver o Helmo indo pegar minha prancha. Ele lançou a prancha na minha direção, só que não deu tempo de pegar, e uma onda levou pra bem longe. Então dessa vez fiz diferente, saí por cima das bancadas de coral, atravessei o canal e peguei minha prancha. Voltamos pro Northshore, rindo muito do sufoco que eu havia passado.

Na sala de shape da Surfline Hawaii, onde eu shapeava aos domingos, encontrei com o Buddy Dumphy, companheiro de quarto de shape, e contei sobre o que eu passara em Laie – ele contou então que o sufoco que ele havia passado tinha sido maior, pois a prancha não tinha voltado com a corrente, ele havia tido que se livrar do colete de neopene para poder nadar melhor e conseguir chegar na praia.

ufa! pois é, é isso, e depois conto a segunda parte, com sufocos que passei desde que decidi voltar ao surf.

Boas Ondas


Yso Amsler